Friday, November 18, 2005

Encarar o quê?


E não é que a gente resolveu antecipar nossa ida ao Biz & Biu, por conta de que iríamos viajar na quinta-feira (dia 10)? Quinta-feira é nosso dia de show, já entramos pras seculares tradições de Vila Rica - debaixo do Sovaco da Véia, tudo vira tradição: as quartas-feiras são - tradicionalmente - dias de caraoquê, karaokê, sei-lá-o-quê.

Mostramos o nível do nosso não-sei-o-que-lês.
Caraoquê nota 95
Estava acontecendo na cidade um congresso de - argh! - Engenharia - argh! - Mecânica. Tinha um monte de estudantes de argh Engenharia. Impressionante como eles conseguiam se divertir, aos vinte anos de idade, com coisas que ainda não nos divertem aos quarenta. Ou nós somos muito jovens, ou eles muito velhos. Ou vai ver, as duas opções.

Os argh! engenheiros se penduravam no microfone. Cantavam até em ingrêis. Como dizia o Samba do Geólogo doido, se não falar ingrêis, a gente leva ferro outra vêis - mas, como canta o Xangai, dexe de bestage, nóis nem sabe o portuguêis. Foi daí que o Violeiro me fez a proposta:

-Cê topa cantar em num-sei-que-lá?

Você já perguntou a macaco se ele quer banana? A mineiro se ele gosta de queijo? A cearense se ele gosta de farinha? Pois é... Uma pergunta dessas não se faz duas vezes, porque a resposta vai ficar parecendo o Fradim: topo-topo.

Faltava escolher a música, porque motivo não nos faltava: o aniversário do colega Jiuja (se quem pratica nin-jutsu é ninja, lutador de jiu-jitsu é o quê?). Chamamos o garçom - não era o Zezinho - e escolhemos Hotel California, porque alguém tinha acabado de cantá-la, mas acabamos tentando trocar A hard day's night - mais animada, sabe como é...

Avisamos a rapaziada da Interpretação, que passava de volta de uma noitada de sommelier - encheram o caco de vinho. Tava todo mundo mais rosado que bunda de nenê. Gostarm tanto da idéia que toparam esperar, mesmo estando o Biz & Biu cheio de - ARGH!!!!! engenheiros! Aliás tinha você-já-sabe-quem para todo lado. Fotografavam-se mutuamente mais do que eu fotografo as nossas gandaias e escolhiam as músicas mais inesperadas, tentando cantar a sério e acreditando piamente nas mentiras que o caraoquê inventava como notas.

Chegou a nossa vez. Violeiro chamou mais um colega - Cê quer que eu seja criativo, logo hoje, sexta-feira? - para que ele se desse ao trabalho de ler a legenda do caraoquê. O garçom-maestro-piloto avisou que A hard day's night não estava disponível no cartucho sugeriu o nosso pedido original. Começaram os primeiros acordes de hotel Califórnia e...

-Não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, Califóóóórniaaaa - não-sei-que-lá, não-sei-que-lá... não-sei-que-lá, não-sei-que-lá...

A platéia nos olhava, apalermada - quase toda, ou melhor, aquela parte da platéia constituída por - argh! - engenheiros mecânicos. Nada contra essas criaturas, claro, mas também nada a favor. Tudo bem, eles são importantes, pelo menos aqueles que dão manutenção nas fábricas de cerveja. Mas esses são a exceção. A maioria só serve para ir no Biz & Biu cantar Califórnia no caraoquê e acreditarem na nota que aquela máquina quase-estúpida dá.

A parte da platéia constituída por geólogos e geofísicos, aquela minoria esmagadora, cantava conosco. A Fase Zero puxou um corinho de Lindo, lindo, lindo - ou era rindo, rindo, rindo. Felizmente, a maioria esmagadora dos geofísicos brasileiros são geólogos que só têm um defeito: gostar de matemática.

Acabou a letra e a porra do caraoquê não parava de tocar. Acho que a máquina gostou da gente, porque continuou tocando até o fim. Acabamos cantando não-sei-que-lá mais um tempão. Fomos aplaudidos enquanto continuávamos a balançar os braços naquele gesto típico de quem está num show e não sabe o que fazer com os braços. ao final, a consagração na opinião da máquina estúpida: nota 95 pontos Você é cantor profissional.

Outros tentaram depois, mas somente nós obtivemos a consagração de público (estúpido ou - argh! - engenheiros) crítica (geológica e, portanto, esperta) e máquina (imbecil, mas dotada de bom senso). Nem mesmo a Atleti Cana e a Verdezolhos conseguiram nos alcançar, ainda que tenham chegado bem perto - podiam ter chegado mais perto, mas acho que se chegassem mais perto a gente acabava levando um tapa na cara...

O Violeiro acabou desenvolveu uma nova teoria: eu teria caído num barril de cerveja quando pequeno. Bom, foi quase isso. Ainda acho que o barril era de cachaça, mas a ressaca foi muito braba e eu não lembro de nada. Pelo menos, no dia seguinte eu conseguia sentar.

Tuesday, November 08, 2005

Anedota de botequim



Diz que Dom Pepe le Gambá entrou uma noite dessas na ala dos fundos de um conhecido e muito bem freqüentado bar ouropretano, famoso por seus caraoquês. Reza a tradição que, nos dias de caraoquê, os fundos do famoso botequim se transforma em um reduto GLS. Longe deste infame cronista ter qualquer restrição a qualquer pessoa; convicto defensor da república, democrata, quase um anarquista, acredito que cada um é dono do próprio nariz e, por extensão, de qualquer outro órgão do seu corpo, tendo o livre direito de metê-lo (o nariz, ou qualquer outro órgão) onde bem entender.

Bom, como eu tentava explicar, quando fui tão rudemente interrompido, Dom Pepe foi adentrando o recinto, e aproximou-se de uma simpática e poderosa Dona. E foi logo se ajeitando e puxando conversa:

-Oi, sabe que você é linda???

A bela ragazza não vacilou e foi logo explicando:

-Sai fora, que eu sou lésbica!!!

Inebriado pela presença de tão formosa mulher, e também pela cerveja misturada com cachaça e Engov, nosso herói perguntou, confuso:

-Desculpe, mas... como é???

-Cara, eu gosto de mulher! Eu durmo pensando em mulher, acordo pensando em mulher, meu negócio é mulher!!!

Ao que Dom Pepe, feliz, abre os braços e a agarra:

-Eu também sou lésbico!!!

Sunday, November 06, 2005

Perdendo o órgão


Não é que o cinqüentenário Carandiru resolveu botar as asinhas de fora? Cavalgando sua moto, voltou aos seus tempos de Febem e caiu na estrada. Ele, que passou metade da festa tomando guaraná - pelo menos, não era diet - assim, pôde manter um clima de rebeldia.

Chegou a Mariana, assistiu à missa, que acabou às onze, e saiu para dar um rolê pelas igrejas da cidade. Meio-dia, voltou à porta da Sé, para o concerto do órgão setecentista.

Mariana ganhou o nome e o órgão de Dona Maria Ana, esposa do rei de Portugal Dom João V. Como o Sovaco também é cultura, vou explicar: Dom João V foi pai de D. José I, que foi pai de Dona Maria I, mãe de D. João VI, pai de D. Pedro I.

Voltando, então, ao Carandiru Febem, este encontrou a porta da Catedral fechada e não vacilou: acreditando que justo hoje o concerto tinha sido suspenso, pegou sua moto e tomou a estrada. Encontrei-o explicando à Atleti Cana:

-Encontrei a porta fechada, pensei: 'Pronto! Logo hoje, o concerto foi cancelado. Mas depois me explicaram que, para o concerto, a gente entra pela porta do lado. Fui a Mariana e perdi o 'órgão...'

Na hora, perguntei:

-Como é? O que você foi fazer em Mariana, que perdeu o órgão???

Arrombou a festa


Foi o Violeiro quem deu a idéia:

Rolou a festa na República Boite Casablanca-A gente podia dar uma festa numa república, para se enturmar com a rapaziada e, também, agradecer a festa que a outra turma deu pra gente!

Depois de muita conversa, entrando o Dom Pixote e o Zangado na jogada, fizemos uma vaquinha e entregamos na mão do Cinderela, da república Boite Casablanca, que fica na Rua São José.

A festa começou às 3 da tarde e se esticou enquanto a cerveja durou - com direito a duas passadas de chapéu para comprar mais. Como é de costume, a rotatividade era grande: o povo ia entrando e saindo; teve quem levasse pai, mãe, tia, irmãs, irmãos... O cachorro da república - o mais cachorro, que anda de quatro sem precisar encher a cara - zanzava pelo meio das pernas, atrás de raspas e restos.

A Casablanca, para quem olha da rua, parece uma casa pequena, mas por trás da fachada, o morro sobe - parece que infinitamente - e as escadas se sucedem. Ficamos no antepenúltimo patamar. Cinderela confessou que, no seu Miss Bicho, escorregou de cara pelas dezenas de degraus que ligam a churrasqueira e o freezer ao banheiro.

Dom Pixote, lá pelas tantas, abraçou-se a uma garrafa de cachaça e passou a sorvê-la avidamente, pelo bico. Cismou, então, de tomar meu lugar de paparazzo da turma, e se pôs a fotografar. Mas, crente que essa era um estratégia infalível para provar a profunda paixão que sentia pelas garotas da festa, começou a fotografar suas retinas. A Atleti Cana, ainda acompanhada da família, nos segredou que ele já era hors-concours o vencedor do Grammy - categoria Péla-saco. A pobre da Verdezolhos ficou uns quinze minutos cega, com as investidas fotográficas.

Assim rolava a festa, Casablanca transformada num gueto de geocientistas e aspirantes a tal. Osso se pôs a discorrer sobre não-sei-bem-o-quê, até que a Tinha, sua namorada, chegou - e ficou puta da vida quando a apresentei ao Violeiro como Namorada do Osso. Como é da área de Teatro, não entende bem essa questão da relatividade dos referenciais. Nós, que passamos os dias trocando a marcação de nossas medidas entre a profundidade medida e o tempo duplo, bem que tentamos lhe explicar, mas ela não aceitou bem a coisa.

Zangado, de vez em quando, vinha reclamar do som e prometia dar um bico nas caixas. Violeiro o convenceu que bastava ir até o micro baixar o som. Aliás, eita programinha ruinzinho, esse Windows Media Player! Nem equalizador tem! Aproveitamos, numa das vezes em que tentamos ajustar a joça do Windows, para incluir na lista de execução o clássico da MPB Cães e Rães, mais novo sucesso das paradas.

Pepe le Gambá em Ouro Preto
Pepe, o gambá francês apaixonado.
À medida que a noite avançava, a cerveja acabava e as pessoas procuravam novos agitos. Cinderela nos apresentou a sua criação, uma batida de vodka com Hall Mento-Liptus (argh!!!). Quando eu perguntei pelo Dom Pixote, crente que o encontraria embaixo de alguma mesa, melado de vômito, o Violeiro riu:

-Está lá em cima, zoando...

Mas o colega não sabia da missa a metade. Pior foi galgar a escadaria e dar com a cena dantesca: Negão, uma ruiva nativa, Zangado e Verdezolhos observavam Pepe le Gambá em ação. Isso mesmo, o gambá que persegue as gatinhas nos desenhos do Looney Toones (turma do Pernalonga)!!!

Perigosamente sentado em mureta que dava para um vazio de uns três metros de altura, Dom Pepe tentava beijar, à força, uma garota ouropretana que ainda não percebia o perigo que representavam os acontecimentos. Ríamos. Perguntei à Verdezolhos:

-Ela é paraplégica, ou está gostando?

-Deve estar gostando, porque não levanta daí!

Ainda chocado, desci de volta à cozinha, onde Cinderela, Violeiro e outros estudantes tentavam convencer Distraído que o batidão sabor Halls não era tão ruim assim.

Distraído tentava nos convencer a todos para irmos ao Biz & Biu. Nisso, a mais nova Cherrie de Dom Pepe passou, com olhar apavorado; segundos depois, o próprio apaixonado veio, com um brilho fosco no olhar (só geólogo para entender o que é brilho fosco) e um sorriso de gato que comeu passarinho. Nessa hora, todos já tinham certeza do perigo que era dar-lhe as costas!

Saímos aos poucos. Dom Pepe, Zangado e Verdezolhos saíram para o Biz & Biu. Em seguida, Violeiro com seu violão, Distraído com seu sax e eu fomos para o hotel, deixar os instrumentos. Chegando, Distraído sentiu bater mais forte a saudade da cama e ficou. Voltamos, então, os dois remanescentes para a rua, na direção do Biz & Biu.

A família da Atleti Cana ainda estava lá, mas logo nos deixou. A garota, então, pôde se entregar à sua paixão, transformando a sombrinha em microfone, fazendo entrevistas e cantando. O artista Antonio Primo se apresentava e ela, por etapas, tomou lugar no bar, dançando e cantando. Daqui a pouco, todos estávamos no agito. Alguns freqüentadores que, parece, vão a bar para rezar, se retiraram. Zezinho, o garçom, até ensaiou uns passos conosco.

Antonio PrimoMas, com o avançado da hora, o Primo já encerrava sua apresentação. Ainda deu uma boa palhinha, tocando muito reggae. No entanto, precisava ir: hoje, no domingo, tocaria em Lavras Novas. Enquanto relaxava, se preparando para ir embora, observava os novos cantores que tinham se apropriado do microfone e comentou:

-É.... a cerveja produz músicos! - a sabedoria mineira em ação!!

Ainda nos preparamos para ir ao CAEM, paa esticar ainda mais a noite. No caminho, a Atleti Cana pareceu não agüentar e pediu que a levássemos para casa. Mas tirou as sandálias e, na Rua Direita, se pôs a cantar com sua inseparável sombrinha. Adiantei o passo e peguei um carro para levá-la - nas ladeiras de Ouro Preto, corríamos o risco de vê-la de pé torcido - pelo menos. Qual! Cadê o povo? Em vez de enveredarem pela Rua São José, voltaram à Rua Direita, passaram no Bar das Coxas (Bar Barroco) para abastecer e tomaram o rumo da Praça Tiradentes.

Encontrei-os já saindo do barzinho, isso depois de rodar a Rua São José, ir ao Rosário e passar pela Igreja do Pilar, voltando a subir pela Rua Direita! Estacionei na Praça Tiradentes e a Atleti Cana entregou os pontos: me leva pra casa?

Acompanhados da Verdezolhos, do Mexicano e da Narizinho (ninguém me tira da cabeça que foi tanta gente por medo de me dar um ataque de Dom Pepe e tentar agarrar a pobre Atleti Cana), deixamos a artista etílica.

Desisti. Deixei os outros três na praça, me despedi de Violeiro e Zangado e fui pra cama. Esse povo movido a álcool vai longe!