Encarar o quê?
E não é que a gente resolveu antecipar nossa ida ao Biz & Biu, por conta de que iríamos viajar na quinta-feira (dia 10)? Quinta-feira é nosso dia de show, já entramos pras seculares tradições de Vila Rica - debaixo do Sovaco da Véia, tudo vira tradição: as quartas-feiras são - tradicionalmente - dias de caraoquê, karaokê, sei-lá-o-quê.
Os argh! engenheiros se penduravam no microfone. Cantavam até em ingrêis. Como dizia o Samba do Geólogo doido, se não falar ingrêis, a gente leva ferro outra vêis - mas, como canta o Xangai, dexe de bestage, nóis nem sabe o portuguêis. Foi daí que o Violeiro me fez a proposta:
-Cê topa cantar em num-sei-que-lá?
Você já perguntou a macaco se ele quer banana? A mineiro se ele gosta de queijo? A cearense se ele gosta de farinha? Pois é... Uma pergunta dessas não se faz duas vezes, porque a resposta vai ficar parecendo o Fradim: topo-topo.
Faltava escolher a música, porque motivo não nos faltava: o aniversário do colega Jiuja (se quem pratica nin-jutsu é ninja, lutador de jiu-jitsu é o quê?). Chamamos o garçom - não era o Zezinho - e escolhemos Hotel California, porque alguém tinha acabado de cantá-la, mas acabamos tentando trocar A hard day's night - mais animada, sabe como é...
Avisamos a rapaziada da Interpretação, que passava de volta de uma noitada de sommelier - encheram o caco de vinho. Tava todo mundo mais rosado que bunda de nenê. Gostarm tanto da idéia que toparam esperar, mesmo estando o Biz & Biu cheio de - ARGH!!!!! engenheiros! Aliás tinha você-já-sabe-quem para todo lado. Fotografavam-se mutuamente mais do que eu fotografo as nossas gandaias e escolhiam as músicas mais inesperadas, tentando cantar a sério e acreditando piamente nas mentiras que o caraoquê inventava como notas.
Chegou a nossa vez. Violeiro chamou mais um colega - Cê quer que eu seja criativo, logo hoje, sexta-feira? - para que ele se desse ao trabalho de ler a legenda do caraoquê. O garçom-maestro-piloto avisou que A hard day's night não estava disponível no cartucho sugeriu o nosso pedido original. Começaram os primeiros acordes de hotel Califórnia e...
-Não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, Califóóóórniaaaa - não-sei-que-lá, não-sei-que-lá... não-sei-que-lá, não-sei-que-lá...
A platéia nos olhava, apalermada - quase toda, ou melhor, aquela parte da platéia constituída por - argh! - engenheiros mecânicos. Nada contra essas criaturas, claro, mas também nada a favor. Tudo bem, eles são importantes, pelo menos aqueles que dão manutenção nas fábricas de cerveja. Mas esses são a exceção. A maioria só serve para ir no Biz & Biu cantar Califórnia no caraoquê e acreditarem na nota que aquela máquina quase-estúpida dá.
A parte da platéia constituída por geólogos e geofísicos, aquela minoria esmagadora, cantava conosco. A Fase Zero puxou um corinho de Lindo, lindo, lindo - ou era rindo, rindo, rindo. Felizmente, a maioria esmagadora dos geofísicos brasileiros são geólogos que só têm um defeito: gostar de matemática.
Acabou a letra e a porra do caraoquê não parava de tocar. Acho que a máquina gostou da gente, porque continuou tocando até o fim. Acabamos cantando não-sei-que-lá mais um tempão. Fomos aplaudidos enquanto continuávamos a balançar os braços naquele gesto típico de quem está num show e não sabe o que fazer com os braços. ao final, a consagração na opinião da máquina estúpida: nota 95 pontos Você é cantor profissional.
Outros tentaram depois, mas somente nós obtivemos a consagração de público (estúpido ou - argh! - engenheiros) crítica (geológica e, portanto, esperta) e máquina (imbecil, mas dotada de bom senso). Nem mesmo a Atleti Cana e a Verdezolhos conseguiram nos alcançar, ainda que tenham chegado bem perto - podiam ter chegado mais perto, mas acho que se chegassem mais perto a gente acabava levando um tapa na cara...
O Violeiro acabou desenvolveu uma nova teoria: eu teria caído num barril de cerveja quando pequeno. Bom, foi quase isso. Ainda acho que o barril era de cachaça, mas a ressaca foi muito braba e eu não lembro de nada. Pelo menos, no dia seguinte eu conseguia sentar.