Friday, November 18, 2005

Encarar o quê?


E não é que a gente resolveu antecipar nossa ida ao Biz & Biu, por conta de que iríamos viajar na quinta-feira (dia 10)? Quinta-feira é nosso dia de show, já entramos pras seculares tradições de Vila Rica - debaixo do Sovaco da Véia, tudo vira tradição: as quartas-feiras são - tradicionalmente - dias de caraoquê, karaokê, sei-lá-o-quê.

Mostramos o nível do nosso não-sei-o-que-lês.
Caraoquê nota 95
Estava acontecendo na cidade um congresso de - argh! - Engenharia - argh! - Mecânica. Tinha um monte de estudantes de argh Engenharia. Impressionante como eles conseguiam se divertir, aos vinte anos de idade, com coisas que ainda não nos divertem aos quarenta. Ou nós somos muito jovens, ou eles muito velhos. Ou vai ver, as duas opções.

Os argh! engenheiros se penduravam no microfone. Cantavam até em ingrêis. Como dizia o Samba do Geólogo doido, se não falar ingrêis, a gente leva ferro outra vêis - mas, como canta o Xangai, dexe de bestage, nóis nem sabe o portuguêis. Foi daí que o Violeiro me fez a proposta:

-Cê topa cantar em num-sei-que-lá?

Você já perguntou a macaco se ele quer banana? A mineiro se ele gosta de queijo? A cearense se ele gosta de farinha? Pois é... Uma pergunta dessas não se faz duas vezes, porque a resposta vai ficar parecendo o Fradim: topo-topo.

Faltava escolher a música, porque motivo não nos faltava: o aniversário do colega Jiuja (se quem pratica nin-jutsu é ninja, lutador de jiu-jitsu é o quê?). Chamamos o garçom - não era o Zezinho - e escolhemos Hotel California, porque alguém tinha acabado de cantá-la, mas acabamos tentando trocar A hard day's night - mais animada, sabe como é...

Avisamos a rapaziada da Interpretação, que passava de volta de uma noitada de sommelier - encheram o caco de vinho. Tava todo mundo mais rosado que bunda de nenê. Gostarm tanto da idéia que toparam esperar, mesmo estando o Biz & Biu cheio de - ARGH!!!!! engenheiros! Aliás tinha você-já-sabe-quem para todo lado. Fotografavam-se mutuamente mais do que eu fotografo as nossas gandaias e escolhiam as músicas mais inesperadas, tentando cantar a sério e acreditando piamente nas mentiras que o caraoquê inventava como notas.

Chegou a nossa vez. Violeiro chamou mais um colega - Cê quer que eu seja criativo, logo hoje, sexta-feira? - para que ele se desse ao trabalho de ler a legenda do caraoquê. O garçom-maestro-piloto avisou que A hard day's night não estava disponível no cartucho sugeriu o nosso pedido original. Começaram os primeiros acordes de hotel Califórnia e...

-Não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, Califóóóórniaaaa - não-sei-que-lá, não-sei-que-lá... não-sei-que-lá, não-sei-que-lá...

A platéia nos olhava, apalermada - quase toda, ou melhor, aquela parte da platéia constituída por - argh! - engenheiros mecânicos. Nada contra essas criaturas, claro, mas também nada a favor. Tudo bem, eles são importantes, pelo menos aqueles que dão manutenção nas fábricas de cerveja. Mas esses são a exceção. A maioria só serve para ir no Biz & Biu cantar Califórnia no caraoquê e acreditarem na nota que aquela máquina quase-estúpida dá.

A parte da platéia constituída por geólogos e geofísicos, aquela minoria esmagadora, cantava conosco. A Fase Zero puxou um corinho de Lindo, lindo, lindo - ou era rindo, rindo, rindo. Felizmente, a maioria esmagadora dos geofísicos brasileiros são geólogos que só têm um defeito: gostar de matemática.

Acabou a letra e a porra do caraoquê não parava de tocar. Acho que a máquina gostou da gente, porque continuou tocando até o fim. Acabamos cantando não-sei-que-lá mais um tempão. Fomos aplaudidos enquanto continuávamos a balançar os braços naquele gesto típico de quem está num show e não sabe o que fazer com os braços. ao final, a consagração na opinião da máquina estúpida: nota 95 pontos Você é cantor profissional.

Outros tentaram depois, mas somente nós obtivemos a consagração de público (estúpido ou - argh! - engenheiros) crítica (geológica e, portanto, esperta) e máquina (imbecil, mas dotada de bom senso). Nem mesmo a Atleti Cana e a Verdezolhos conseguiram nos alcançar, ainda que tenham chegado bem perto - podiam ter chegado mais perto, mas acho que se chegassem mais perto a gente acabava levando um tapa na cara...

O Violeiro acabou desenvolveu uma nova teoria: eu teria caído num barril de cerveja quando pequeno. Bom, foi quase isso. Ainda acho que o barril era de cachaça, mas a ressaca foi muito braba e eu não lembro de nada. Pelo menos, no dia seguinte eu conseguia sentar.

Tuesday, November 08, 2005

Anedota de botequim



Diz que Dom Pepe le Gambá entrou uma noite dessas na ala dos fundos de um conhecido e muito bem freqüentado bar ouropretano, famoso por seus caraoquês. Reza a tradição que, nos dias de caraoquê, os fundos do famoso botequim se transforma em um reduto GLS. Longe deste infame cronista ter qualquer restrição a qualquer pessoa; convicto defensor da república, democrata, quase um anarquista, acredito que cada um é dono do próprio nariz e, por extensão, de qualquer outro órgão do seu corpo, tendo o livre direito de metê-lo (o nariz, ou qualquer outro órgão) onde bem entender.

Bom, como eu tentava explicar, quando fui tão rudemente interrompido, Dom Pepe foi adentrando o recinto, e aproximou-se de uma simpática e poderosa Dona. E foi logo se ajeitando e puxando conversa:

-Oi, sabe que você é linda???

A bela ragazza não vacilou e foi logo explicando:

-Sai fora, que eu sou lésbica!!!

Inebriado pela presença de tão formosa mulher, e também pela cerveja misturada com cachaça e Engov, nosso herói perguntou, confuso:

-Desculpe, mas... como é???

-Cara, eu gosto de mulher! Eu durmo pensando em mulher, acordo pensando em mulher, meu negócio é mulher!!!

Ao que Dom Pepe, feliz, abre os braços e a agarra:

-Eu também sou lésbico!!!

Sunday, November 06, 2005

Perdendo o órgão


Não é que o cinqüentenário Carandiru resolveu botar as asinhas de fora? Cavalgando sua moto, voltou aos seus tempos de Febem e caiu na estrada. Ele, que passou metade da festa tomando guaraná - pelo menos, não era diet - assim, pôde manter um clima de rebeldia.

Chegou a Mariana, assistiu à missa, que acabou às onze, e saiu para dar um rolê pelas igrejas da cidade. Meio-dia, voltou à porta da Sé, para o concerto do órgão setecentista.

Mariana ganhou o nome e o órgão de Dona Maria Ana, esposa do rei de Portugal Dom João V. Como o Sovaco também é cultura, vou explicar: Dom João V foi pai de D. José I, que foi pai de Dona Maria I, mãe de D. João VI, pai de D. Pedro I.

Voltando, então, ao Carandiru Febem, este encontrou a porta da Catedral fechada e não vacilou: acreditando que justo hoje o concerto tinha sido suspenso, pegou sua moto e tomou a estrada. Encontrei-o explicando à Atleti Cana:

-Encontrei a porta fechada, pensei: 'Pronto! Logo hoje, o concerto foi cancelado. Mas depois me explicaram que, para o concerto, a gente entra pela porta do lado. Fui a Mariana e perdi o 'órgão...'

Na hora, perguntei:

-Como é? O que você foi fazer em Mariana, que perdeu o órgão???

Arrombou a festa


Foi o Violeiro quem deu a idéia:

Rolou a festa na República Boite Casablanca-A gente podia dar uma festa numa república, para se enturmar com a rapaziada e, também, agradecer a festa que a outra turma deu pra gente!

Depois de muita conversa, entrando o Dom Pixote e o Zangado na jogada, fizemos uma vaquinha e entregamos na mão do Cinderela, da república Boite Casablanca, que fica na Rua São José.

A festa começou às 3 da tarde e se esticou enquanto a cerveja durou - com direito a duas passadas de chapéu para comprar mais. Como é de costume, a rotatividade era grande: o povo ia entrando e saindo; teve quem levasse pai, mãe, tia, irmãs, irmãos... O cachorro da república - o mais cachorro, que anda de quatro sem precisar encher a cara - zanzava pelo meio das pernas, atrás de raspas e restos.

A Casablanca, para quem olha da rua, parece uma casa pequena, mas por trás da fachada, o morro sobe - parece que infinitamente - e as escadas se sucedem. Ficamos no antepenúltimo patamar. Cinderela confessou que, no seu Miss Bicho, escorregou de cara pelas dezenas de degraus que ligam a churrasqueira e o freezer ao banheiro.

Dom Pixote, lá pelas tantas, abraçou-se a uma garrafa de cachaça e passou a sorvê-la avidamente, pelo bico. Cismou, então, de tomar meu lugar de paparazzo da turma, e se pôs a fotografar. Mas, crente que essa era um estratégia infalível para provar a profunda paixão que sentia pelas garotas da festa, começou a fotografar suas retinas. A Atleti Cana, ainda acompanhada da família, nos segredou que ele já era hors-concours o vencedor do Grammy - categoria Péla-saco. A pobre da Verdezolhos ficou uns quinze minutos cega, com as investidas fotográficas.

Assim rolava a festa, Casablanca transformada num gueto de geocientistas e aspirantes a tal. Osso se pôs a discorrer sobre não-sei-bem-o-quê, até que a Tinha, sua namorada, chegou - e ficou puta da vida quando a apresentei ao Violeiro como Namorada do Osso. Como é da área de Teatro, não entende bem essa questão da relatividade dos referenciais. Nós, que passamos os dias trocando a marcação de nossas medidas entre a profundidade medida e o tempo duplo, bem que tentamos lhe explicar, mas ela não aceitou bem a coisa.

Zangado, de vez em quando, vinha reclamar do som e prometia dar um bico nas caixas. Violeiro o convenceu que bastava ir até o micro baixar o som. Aliás, eita programinha ruinzinho, esse Windows Media Player! Nem equalizador tem! Aproveitamos, numa das vezes em que tentamos ajustar a joça do Windows, para incluir na lista de execução o clássico da MPB Cães e Rães, mais novo sucesso das paradas.

Pepe le Gambá em Ouro Preto
Pepe, o gambá francês apaixonado.
À medida que a noite avançava, a cerveja acabava e as pessoas procuravam novos agitos. Cinderela nos apresentou a sua criação, uma batida de vodka com Hall Mento-Liptus (argh!!!). Quando eu perguntei pelo Dom Pixote, crente que o encontraria embaixo de alguma mesa, melado de vômito, o Violeiro riu:

-Está lá em cima, zoando...

Mas o colega não sabia da missa a metade. Pior foi galgar a escadaria e dar com a cena dantesca: Negão, uma ruiva nativa, Zangado e Verdezolhos observavam Pepe le Gambá em ação. Isso mesmo, o gambá que persegue as gatinhas nos desenhos do Looney Toones (turma do Pernalonga)!!!

Perigosamente sentado em mureta que dava para um vazio de uns três metros de altura, Dom Pepe tentava beijar, à força, uma garota ouropretana que ainda não percebia o perigo que representavam os acontecimentos. Ríamos. Perguntei à Verdezolhos:

-Ela é paraplégica, ou está gostando?

-Deve estar gostando, porque não levanta daí!

Ainda chocado, desci de volta à cozinha, onde Cinderela, Violeiro e outros estudantes tentavam convencer Distraído que o batidão sabor Halls não era tão ruim assim.

Distraído tentava nos convencer a todos para irmos ao Biz & Biu. Nisso, a mais nova Cherrie de Dom Pepe passou, com olhar apavorado; segundos depois, o próprio apaixonado veio, com um brilho fosco no olhar (só geólogo para entender o que é brilho fosco) e um sorriso de gato que comeu passarinho. Nessa hora, todos já tinham certeza do perigo que era dar-lhe as costas!

Saímos aos poucos. Dom Pepe, Zangado e Verdezolhos saíram para o Biz & Biu. Em seguida, Violeiro com seu violão, Distraído com seu sax e eu fomos para o hotel, deixar os instrumentos. Chegando, Distraído sentiu bater mais forte a saudade da cama e ficou. Voltamos, então, os dois remanescentes para a rua, na direção do Biz & Biu.

A família da Atleti Cana ainda estava lá, mas logo nos deixou. A garota, então, pôde se entregar à sua paixão, transformando a sombrinha em microfone, fazendo entrevistas e cantando. O artista Antonio Primo se apresentava e ela, por etapas, tomou lugar no bar, dançando e cantando. Daqui a pouco, todos estávamos no agito. Alguns freqüentadores que, parece, vão a bar para rezar, se retiraram. Zezinho, o garçom, até ensaiou uns passos conosco.

Antonio PrimoMas, com o avançado da hora, o Primo já encerrava sua apresentação. Ainda deu uma boa palhinha, tocando muito reggae. No entanto, precisava ir: hoje, no domingo, tocaria em Lavras Novas. Enquanto relaxava, se preparando para ir embora, observava os novos cantores que tinham se apropriado do microfone e comentou:

-É.... a cerveja produz músicos! - a sabedoria mineira em ação!!

Ainda nos preparamos para ir ao CAEM, paa esticar ainda mais a noite. No caminho, a Atleti Cana pareceu não agüentar e pediu que a levássemos para casa. Mas tirou as sandálias e, na Rua Direita, se pôs a cantar com sua inseparável sombrinha. Adiantei o passo e peguei um carro para levá-la - nas ladeiras de Ouro Preto, corríamos o risco de vê-la de pé torcido - pelo menos. Qual! Cadê o povo? Em vez de enveredarem pela Rua São José, voltaram à Rua Direita, passaram no Bar das Coxas (Bar Barroco) para abastecer e tomaram o rumo da Praça Tiradentes.

Encontrei-os já saindo do barzinho, isso depois de rodar a Rua São José, ir ao Rosário e passar pela Igreja do Pilar, voltando a subir pela Rua Direita! Estacionei na Praça Tiradentes e a Atleti Cana entregou os pontos: me leva pra casa?

Acompanhados da Verdezolhos, do Mexicano e da Narizinho (ninguém me tira da cabeça que foi tanta gente por medo de me dar um ataque de Dom Pepe e tentar agarrar a pobre Atleti Cana), deixamos a artista etílica.

Desisti. Deixei os outros três na praça, me despedi de Violeiro e Zangado e fui pra cama. Esse povo movido a álcool vai longe!

Thursday, October 27, 2005

A viagem do Zangado


Zangado foi a Brasília, para o casamento do irmão. Sua volta foi uma viagem! É ele quem conta:

Minha vinda para Ouro Preto foi conturbada!

No avião, fiquei na segunda fila e na janela.

(Importante mencionar que a capacidade do avião era de 144 passageiros).

Pois é. No corredor estava uma senhora com a perna quebrada e, no meio, mãe e filha de 2 anos.

A menina passou toda a viagem aos berros, com dor de barriga e peidando fedido pra cacete! Vez ou outra tinha ânsia de vômito!

E eu passando mal, com fome e ressaca. Meu querido irmão havia se casado naquele final de semana de outubro em Brasília.

A senhora da ponta (corredor), a todo o momento, cantava algo na tentativa de distrair a menina. Mas a coisa foi piorando e, tanto a menina quanto eu, ficávamos ainda mais nervosos com a voz aguda e desafinada da véia.

Do meio pro final da viagem, a mãe também começou a passar mal. Não sei se foi a voz da véia, mas ajudou!

Desde o início ela se mostrou um pouco nervosa com o vôo. Até aí tudo bem. De repente o braço direito dela endureceu, os dedos ficaram super rígidos e ela muito pálida e amarela! Eu, que já estava esperando a menina vomitar em mim, ou eu nela, a partir dali tive certeza de que alguém iria vomitar: a menina, a mãe ou eu.

Logo, a tripulação tentou ajudar, mas o avião havia iniciado o pouso e portanto nada podia ser feito, a não ser esperar e, no meu caso, rezar pra ninguém vomitar.

Comecei, então, a massagear o braço e a mão da mãe na tentativa de aliviar e acalmá-la. A menina, vendo a mãe chorar, ficou super nervosa e os berros, que já estavam incomodando pra cacete, passaram a insuportáveis. Nesse momento, a peidorreira, de tão nervosa, resolveu soltar o barrão. Puta que pariu, que fedor! Eu deveria ter rezado também pra ninguém cagar!

Então percebi que foi ótimo eu não ter comido nada, caso contrário o estrago na 2a fila do avião seria completo.

Finalmente pousamos. O braço da mãe relaxou um pouquinho, mas a menina continuou gritando e fedendo, claro!

Eu estava muito contente, pois em poucos minutos tudo acabaria. Acontece que a tripulação resolveu que tanto a senhora da perna quebrada, quanto mãe e filha deveriam esperar que todos os 141 passageiros, saíssem. Mas não eram 144 passageiros? Pois é....144, menos a mulher da perna quebrada, menos mãe e filha (a última que não contava, pelo menos como passageira; mas que teve presença marcante!!!), menos EU (que estava preso junto à janela) = 141 passageiros.

Isso mesmo. Tive que esperar, em meio ao maior futum, todos saírem da aeronave.

Eu já havia desistido de pegar o ônibus de 12:15h para a rodoviária de BH. O próximo só sairia 13:15h, que merda, literalmente!

Bom...a cadeira de rodas da véia chegou, a menina, ao ver a mãe melhorar, parou de chorar......mas não de exalar um cheiro horrível.

Começamos a deixar o avião. Ocorre que a véia e sua lenta cadeira não deixavam que eu saísse logo dali. A véia lenta na frente, a mãe apoiada num cara da tripulação e a menina fedorenta logo atrás da véia, e eu, captando toda aquela cena e fedor lá de trás. E louco pra fugir dali... Surgiu uma brechinha no corredor de acesso ao aeroporto e eu “vazei”.

Mas nem tudo estava perdido. Pelo menos foi o que pensei quando consegui pegar o ônibus de 12:15h para a rodoviária de BH. As energias positivas pareciam ter dado o ar da graça quando o cara do frescão disse que a passagem custava R$5,00. Era o que eu tinha na carteira.

Entrei no ônibus ... ônibus cheio...duas cadeiras livres...uma lá atrás próxima ao banheiro e outra logo na primeira fila, no corredor. Beleza, lugar ideal pra sair logo.

De uma hora pra outra, sem mais nem menos, entram mais umas quinze pessoas no ônibus. O motorista, indignado, pedia que esperassem o próximo ônibus. Mas a galera preferiu viajar uma hora de pé, a esperar pelo próximo ônibus.

Imaginem o calor dentro do carro...sem ar condicionado e com a janela ao lado emperrada.

Nas poltronas do outro lado do corredor havia uma senhora, na janela, e sua mala vermelha gigante ao lado. A bicho grilo, ao contrário do restante dos passageiros, não quis deixar sua mala vermelha gigante nova no porta malas do ônibus.

Bom...as últimas pessoas a entrarem no ônibus foram uma senhora, seu netinho de mais ou menos 6 anos e o pai do menino. Era uma típica família da roça, sem nenhum preconceito. Mas, não havia mais lugares. Eu já estava me preparando para ceder meu lugar para a senhora, quando a mulher da mala, gente boa, pediu que a véia2, sentasse ali, junto à mala gigante. Até que coube bem, pois a véinha era miudinha.

A vovó colocou o netinho no colo e o pai ficou em pé, de vez em quando quase caía no meu colo. E o cidadão fedia feito gambá. Um cc dos inferno!

Pronto, a próxima 1 hora até a rodoviária estava garantida. A fonte do fedor só fez mudar do cú da menina esgüelante pras axilas do roceiro descabelado.

Ônibus fechado, lotado, sacudindo, calor e cheiro insuportáveis, começamos nossa viagem até a rodoviária. Eu já não sentia mais fome, mas a ressaca era persistente e novamente, sem esquecer do fato do avião, achei que não estava livre do vômito.

A mulher da mala gigante, bicho grilo total, pra não chamar de sapata, não parou de falar um minuto sequer. Encheu tanto o saco do menino que estava no colo da véia rezante, que ele pediu pra tomar um arzinho. Acreditem, o moleque estava passando mal bem ao meu lado...de novo!!!

A véia, que não parava de rezar, no mínimo pedindo a Deus que calasse a boca da sapata, tentou ajudar o menino: rezou mais ainda e mais alto: “Jesus, meu Senhor, traz um arzim pro meu netim que tá ruizim”.

O pai, gente fina, brigava com o moleque e gritava pra ele não passar mal: “Eu disse pro cê não comer o biscoito!”. A sapata insistia pro menino fixar os olhos num ponto lá fora. Mas, porra, o ônibus estava em movimento....o moleque fixava em algum ponto, o ônibus passava pelo ponto e o moleque tinha que torcer o pescoço para acompanhar o ponto. Carái, véi.... o moleque foi piorando, piorando até que minhas previsões finalmente ocorreram. Uma correria total atrás de um saco plástico pro menino que ia vomitar.

Óbvio que não deu tempo...e lá se foi todo o biscoito, “de chocolate”, pra mala gigante vermelha nova da sapatona bicho grilo.

E o menino “chamou o Raul” mais umas três vezes...Não saía mais nada, mas o barulho esquisito fez-me comparar com os berros da menina cagona.

O “cc dos inferno” travava uma luta ferrenha com o cheiro do vômito. E a véia???? Bem...ela mudou o rumo da reza e não parou de agradecer pelo fato de o menino ter melhorado?!

O cheiro??? Puta que pariu, nada poderia ser pior.

A sapata ficou puta (estranho né? Sapata puta?) no início... mas depois ela relaxou um pouquinho e voltou com o menino para a janela. Pronto – eu pensei -, agora o menino morre... a sapata insistia com ele: “Fixe um ponto, fixe um ponto, ... respire fundo, respire fundo, respire fundo. Enquanto isso, a véia rezava, o pai fedia e eu ali. Comecei a achar muito bom que aquela mala nojenta estivesse ali. Bem feito!!! Tornou-se uma mala gigante vermelha nova com detalhes marrons chocolate. O cheiro de mala nova já era...

Fomos até a rodoviária dessa forma... o ônibus mudo...ouvindo a véia rezar, a sapata insistir, o pai nojento brigar e o menino torcendo o pescoço.

Eu não sei se o menino teve dores no pescoço, mas eu desci do ônibus com uma puta dor de cabeça e no pescoço. Claro, depois de presenciar tudo aquilo, virei pro lado da minha janela e fiquei o resto da viagem olhando lá pra fora com minha blusa tampando o nariz.

Foi foda!

Bem, consegui chegar sem vomitar na rodoviária. Finalmente comi algo: coca-cola com pão de queijo. Peguei o ônibus pra Ouro Preto. Dessa vez consegui dormir. Nem tudo foi ruim, rsss.

Foi isso, um casamento inesquecível, antes, durante e bem depois!!!

Se não tivesse acontecido comigo, eu não acreditaria nessa história! Mas eu contei a pura verdade.

Monday, October 24, 2005

Engenheiro no curso de Geologia


(Esta é uma obra de ficção; qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência - embora alguns fatos possam ter servido de inspiração.)

Colega... eu fui fazer um curso de Geologia... mas não era dessa Geologia que os geólogos da gente ficam falando todo dia, não! Era um curso de Estratigrafia de Seqüências! Sabe lá o que é isso?

Eu pensei: agora vou me dar bem! umas bem merecidas férias! Eu via as fotografias que os geólogos mostram dos cursos que eles fazem, com aquelas paisagens maravilhosas, aquelas cachoeiras, aquelas histórias de tomar cerveja, eu fui achando que ia ser uma maravilha!

...quase chorou pondo a mão e dizendo que era uma maré de um bilhão de anos!
Um geólogo quase chorou...
Chegamos ao aeroporto. Agora, imagine! Eu ia pra um lugar de turismo ecológico, com tudo pago pela empresa, num hotel 5 estrelas... Ah, eu fui certo que ia passar uma semana de rei!

Daí que fomos pro avião. Era um Brasília tosco, colorido, meio afrescalhado, pintado de cor-de-rosa – cor-de-rosa não! Pink! – daí eu estranhei. Pensei: Êpa! Onde é que estou entrando?

A viagem até que foi razoável, mas a aeromoça parecia estar com raiva: pensei que ela ia jogar o pacotinho de amendoim na minha cara. Na hora de aterrisar, eu olhava, olhava, e nada de ver aeroporto internacional nenhum: só mato seco. Uma caatinga brava! Os geólogos que iam dar o curso, animados, falavam sem parar.

Pegamos uma van. O tal hotel cinco estrelas ficava no alto de uma ladeira, no meio de um monte de casinhas muito pitorescas, mas sem grandes atrativos. Vi a piscina, pensei: hoje, estamos descansados. O cardápio do restaurante até que era bom. Mas os professores avisaram: aula às cinco, e depois a gente vai comer na praça!

Agora, você imagina! Depois de encarar duas horas de Boeing e uma hora de Brasília, aula à noite!

A tal aula começou: os geólogos começaram falando de Epistemologia, de Filosofia. Falaram de construção do conhecimento e coisa e tal. E depois, foi um tal de "não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá..." e falavam de arenito, de mar, de rio, de deserto e eu não estava entendendo muito bem, porque falavam de bacia sedimentar e eu só via morro e serra pra todo lado! Já tinha ouvido falar que ali tinha sido mar, mas sempre achei que era poesia de geólogo.

No dia seguinte, sete horas da manhã estávamos todos tomando café. O salão estava cheio de passarinhos pulando nas mesas pra catar mamão e farelo de pão! Daí, a gente saiu de van. Pensei que íamos fazer alguma coisa interessante. Não é que a van parou no meio da estrada, na frente de um corte-de-estrada, um barranco todo de pedra, e mandaram todo mundo descer? Pensei:

-“Ué, descer aqui? Por quê?”

Os geólogos estavam numa animação absurda! Pareciam pivete quando vê turista na praia! E falavam, apontavam, era um tal de "não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá, arenito, não sei o que lá, ambiente estuarino, foz-de-rio, mar, maré, tidle bundle"! Veja só! Nós no meio da estrada, um calor de matar, correndo risco de vida, com caminhões passando do nosso lado, e a gente com uma prancheta, umas folhas de papel, uma trena dessas dobráveis, de dois metros, tendo que medir barranco. E mostravam que as pedras mudavam de cor, de marrom claro passavam para tudo listradinho... e diziam que umas marcas nas pedras eram resultado de marés, outras, de ondas. Teve um geólogo que quase chorou, quando pôs a mão no barranco e falou:

-“Gente, isto foi depositado por uma maré há um bilhão e duzentos milhões de anos!”

no segundo dia, mais barranco!
Na beira da estrada, "não-sei-que-lá, eólico"
Um colega engenheiro perguntou de onde ele tirou essa idade e ele – juro que enxugou as lágrimas com as costas da mão – começou a falar: “não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá, Geocronologia, não sei o que lá, datação”. Sorte que não tinha mosquito. Mas gastei bem um vidro de filtro solar, que eles tinham dito pra levar. E eu que pensei que era para a piscina?

Depois do almoço – que a gente fez num restaurante a quilo num posto de gasolina, com uma comida maravilhosa, será que era a fome? - A gente ainda voltou pro pé do afloramento. É... geólogo chama barranco de afloramento! E pegamos uma fotografia do barranco, toda plastificada, e tome a contar história: “não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá, e o mar subiu, não sei o que lá, o mar desceu...”

Saindo de lá, eles prometeram um brinde. Tinham dito para levarmos sunga. Andamos uns dez minutos no meio do mato, eles mostraram mais barrancos, agora na beira de um rio. E quando a gente chegou lá embaixo, descendo o rio, já escurecendo, cheio de mosquito, um botequinho pé-sujo... eles falaram pra tomar banho de cachoeira! Um buraco, uma água preta que nem coca-cola... Santa cachoeira, santa cervejinha! Jamais pensei que fosse gostar tanto de uma lata de cerveja! E um monte de sagüi em volta da gente, pedindo comida!

De noite, tome aula! Mais "não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, maré, estuário, dunas, areia, ambiente eólico..." Só depois das nove a gente foi sair pra jantar! O restaurante era muito bom, comida fina, mas eu lá tinha paladar para aproveitar alguma coisa?

No segundo dia... Mais barranco!

Dessa vez, falavam em dunas. Eu olhava, via pedra. E eles? “Não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá, duna, não sei o que lá, queda de grãos, não sei o que lá, areia fina, areia grossa...” Eu, que até já começava a enxergar tudo aquilo, fui me empolgando.

O almoço foi um saquinho de plástico com dois sanduíches murchos, um ovo cozido e um pedaço de cocada, com uma banana e um maçã. Os geólogos pareciam estar no céu. Paramos em frente a um botequinho de cidadezinha, cheio de fotos amarelas na parede! Ainda assim, comemos na rua! Em duas mesinhas de cimento, no meio da rua! Pode?!

De tarde? Acertou! Voltamos pros barrancos – desculpe, afloramentos – e mais fotografia plastificada. E agora, vieram mostrar as tais falhas. Olha que eu vi! Eles disseram que era do tectonismo regional, que eram veios de quartzo. Um ali até achou uns cristaizinhos espalhados pelo chão. Começava a gostar de tanta pedra na minha frente. Eles, então, pareciam estar no céu.

De noite? Claro! Aula e, só depois, comida! Não sei onde eles arrumaram energia para sair e comer! Meu corpo pedia: “Cama!”

O terceiro dia, confesso que sonhei em ter uma febre. Mal pensava em sair da cama. O telefone tocou, tomamos café e – barranco? – que nada! Subimos o Morro do Pai Inácio! Já viu foto dele? Duzentos e vinte metros, do chão ao topo. Eles dividiram a gente em três grupos, um ficou com o primeiro terço, outro com o segundo terço e nós ficamos na parte de cima. E mais “não sei o que lá, não sei o que lá, não sei o que lá, seqüência, não sei o que lá, segunda ordem, não sei o que lá, eólico, estuarino...” Sabe que eu já estava começando a entender aquilo tudo? Arrisquei uns palpites! Cheguei a ver as tais estratificações cruzadas! Sabe aquela história de ripple marks? Pois é! Eles mostraram tudo isso! Mas subimos e descemos aquele morrão umas três vezes, descrevendo, discutindo, conversando... Até me animei, dei uns pitacos na história toda!

De noite, não teve aula. A gente tomou banho e saiu para comer comida regional. Com a fome que eu estava, tudo era maravilhoso. Mas sabe que até sem fome eu teria comido bem? E tinha uma cachacinha... Acho que vou levar a família pra lá nas próximas férias. Diz que quando o curso é só para geólogos, eles ainda vão mais dois dias, subindo e descendo serra!

Sabe duma coisa? Nunca mais os critico por fazer esses cursos doidos. Confesso que fiquei com vontade de fazer outro: já até estou entendendo um pouco dessa história de trato de mar alto, trato de mar baixo, falha, estratificação cruzada... É... geólogo tem que ter muita imaginação!

Saturday, October 22, 2005

Logo ali...

Uma placa no meio do nada.
Uma placa enferrujada, perdida no meio do nada, indica: cachoeira


Zangado foi logo perguntando ao Reinaldo, garçon do hotel, onde haveria uma cachoeira em que pudéssemos tomar banho. O rapaz sugeriu a Cachoeira das Cobras, no povoado de Chapada.

-É longe?

-Nããããooo... é logo ali!

Me telefonaram:

-Nós vamos numa cachoeira, cê quer ir? - claro que queria.

Pegamos o rumo de Novas Lavras. As indicações eram claras: passando a Novelis, logo íamos ver uma estrada de terra, daí, era entrar por ela e logo chegaríamos a Chapada, onde fica a cachoeira.

Depois de uns quinze minutos dirigindo, o Paulista reclamou:

-Acho que eles erraram o caminho! Será que já não passamos da entrada? (íamos em dois carros: Zangado e o Negão na frente, Paulista, Violeiro e eu no carro de trás.

Tínhamos passado o bairro de Saramenha fazia tempo e continuávamos rumo a Lavras Novas. O caminho exibia belos deslizamentos, que discutíamos se seriam fluxos de massa, fluxos de grãos ou hiperpicnitos. O Violeiro sacaneou:

-Agora não é mais fluxo, agora tem que falar escoamento de grãos! - falava de outra coisa, mas deixa pra lá. Só a gente vai entender, mesmo!

Preocupados com o almoço, que seria servido às duas e meia, pensávamos em desistir. Depois de uns vinte minutos de chão, chegamos à primeira estrada de terra, que tomamos - fazer o quê?

Chegamos, em meio a muito pó, numa entradinha que dava em um riacho:
Pé na areia, ao infinito e além!
Zangado muito zangado.


-Não é possível! Não pode ser aqui! Isso é uma corredeira! Você viu, não foi? O Reinaldo disse que era perto. Zangado estava meio preocupado, meio puto, meio sem graça, meio irritado, meio zangado... Rindo, o Violeiro concordou:

-É, eu tava lá. Tou de prova. Comentei:

-E vocês vão acreditar em pertim de mineiro?

Seguimos e, depois de cinco minutos de pó, chegávamos a um lugarejo. Um senhor na única rua confirmou que a cachoeira era logo ali.

Paramos do lado de uma capelinha construída em 1883 - nova, para a região - e descemos um caminho. E andamos, andamos, andamos. Zangado, tirando a camisa, já prometia bonquear com Reinaldo:

-Não é possível! Só falta a gente chegar lá e não ter cachoeira nenhuma! todos ríamos, eu tive um acesso de gargalhadas:

Também, vai acreditar em logo ali de mineiro! Um tirico de espingarda...

Mas chegamos à tal da cachoeira. Não é que a danada é linda? Oena que o mato estava queimado em volta. A água - geladíssima - desce pelo acamamento dos xistos do Grupo Itacolomi, escavando a rocha. Entramos cautelosamente, e tive um novo acesso:

--Que água fria! Que água fria! Que água fria! Que água fria! Que água fria!

E a cachoeira não era cascata!
Enfim, cachoeira - não era cascata!
Curtimos. Da próxima vez, só levando um isopor com cerveja e comida.

Viajamos: e se uma tromba d'água resolvesse descer a serra? Olhando à volta: não teríamos para onde correr. Meti a mão numa panela que a erosão escavou e, distraído, quase me apoiei numa aranha DESTE tamanho.

Uma turma chegou, entre eles uma garota com uma borboleta enorme tatuada nas costas (bota enorme nisso!) ficou de biquini. Passamos a discutir se o fiofó da garota coincidia com o fiofó da borboleta.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, e o namorado dela era enfezado, deixamos essas discussões metafísicas de lado e voltamos para Chapada, onde o Bas das Cobras nos esperava. Estatisticamente, o Violeiro provou que visitar cachoeiras aumenta a sede de cerveja.

Voltamos às pressas, para não perder o rango que, afinal, é cortesia das...

Organizações...

Ops! É cortesia do Hotel!

Monday, September 26, 2005

Festival de Jazz

Grupo Pau Brasil



Grupo Pau BrasilO show do Weber Lopes foi massa. O careca toca demais! Mas quem seduziu o público - pelo menos, nos seduziu - foi o Grupo Pau Brasil.

(Êpa! Sem nenhuma conotação erótico-pornográfica, por favor!)

Os caras irradiavam felicidade. Como eles confessaram, o grupo se reunia há muito tempo e, como todo grupo de amigos, a vida os separara. Um esforço a mais e voltaram a se encontrar, gravando um novo disco (os primeiros eram LPs, agora chegaram à era do CD).

Um grupo! Não dá para dar nome a cada um, individualmente. São: o Pianista, o Baixista, o Saxofonista, o Baterista e o Violonista. Um grupo.

A gente via como eles curtiam. Felicidade é o que a gente via nos seus olhos, nos seus gestos. Um parava para ver o amigo fazer seu solo.

Outro se revirava de caretas quase orgásmicas por estarem ali, de novo, tocando juntos.

O Baixista tem o apelido de Rufino; o Saxofonista é médico. O Pianista é maestro (?). O Baterista é o mais novo. E daí?

Tocaram suas composições, atacaram de Baquianas do Villa Lobos. Explicaram, contaram histórias. E, principalmente, fizeram um som maneiro.